Pacientes que cogitam submeter-se a uma cirurgia plástica, na sua grande maioria, sempre expressam grande preocupação em relação à anestesia que será empregada e a seus riscos. Devido a este receio, inclusive, a anestesia é motivo de desistência e falta de coragem principalmente para as pessoas com idade acima dos 40 anos. Estas certamente ouviram, ao longo da sua infância, casos de “choque na anestesia”, em que a pessoa “dormiu e não acordou mais”.
A experiência com anestesia – Dr. Cassiano F. Beller
Todo o tipo de anestesia tem a sua característica própria de segurança e deverá ser decidida de acordo com o critério do médico anestesiologista.
Sabemos que a anestesia para a cirurgia plástica tem alto grau de segurança, pois se está operando um paciente hígido, nas suas plenas condições de saúde, ao passo de que a cirurgia plástica tratará apenas de áreas da superfície corporal (ou seja, superficial). Mas o que mais me impressiona é o avanço da qualidade e segurança da anestesia ao longo de toda a minha vida de médico, desde o meu período de formação acadêmica, em que já acompanhava cirurgias de várias especialidades, até os dias de hoje.
Lembro que, na minha visão, a anestesia geral não era tão boa, apesar de ser imprescindível para determinadas cirurgias, pois era comum o paciente demorar muito para acordar e se recuperar da anestesia, além do mal estar, náuseas e vômitos que eram muito frequentes e duravam dias até melhorar.
A minha impressão na época é que se pudesse realizar uma anestesia regional ou local, ter-se-ia mais segurança e controle. Era uma época em que se tinham pouquíssimos aparelhos de monitoramento das funções vitais do organismo e basicamente usava-se o medidor de pressão e controle da frequência cardíaca.
Já na época da minha formação em cirurgia plástica, alguns serviços associavam anestesia peridural ou local com uma sedação para o paciente dormir e não perceber o desconforto da aplicação anestésica e suportar o tempo de transcurso da cirurgia. As vantagens é que se teriam pós-operatórios mais rápidos, os quais permitiriam alta mais cedo e um custo financeiro menor.
Então, quando iniciei minha carreira profissional, praticamente todas as minhas cirurgias eram realizadas sob anestesia peridural ou local com sedação pelo anestesista e sempre funcionaram muito bem, sem complicações e com bastante segurança. Esta minha preferência por esse tipo de anestesia durou pelo menos 10 anos.
A anestesia geral endovenosa
No início dos anos 2000, quando surgiu a anestesia geral endovenosa total no nosso meio, ocorreu um grande avanço na sua qualidade e na segurança. Isso aconteceu devido ao surgimento de novas drogas e ao uso de novos aparelhos de monitorização no nosso dia a dia (aparelhos que nos mostram instantaneamente vários dados importantes como, por exemplo, a oxigenação do sangue, a pressão arterial, o grau de consciência no momento etc.) e bombas de infusão (aparelhos que administram de modo contínuo e constante os medicamentos necessários no sangue) que culminaram com o que eu chamo de “lua de mel” entre a cirurgia plástica e a anestesia geral.
Hoje, apesar de ter ainda um custo um pouco maior, oferece uma qualidade fantástica em termos de segurança, conforto para o paciente e rápida recuperação pós-operatória, fazendo com que haja menos estresse e permitindo um acordar como se fosse de um sono normal do dia a dia. Este permite, ainda, uma mobilização mais rápida e consequente menor tempo de internação.
Hoje, basicamente, na nossa prática diária temos usado a anestesia geral (endovenosa total) na quase totalidade das cirurgias com excepcional satisfação e sensação de segurança plena.